Os Templários
Nos séculos XII e XIII, embora o cavaleiro fosse o combatente por excelência, não podia ser considerado como um verdadeiro “profissional da guerra”, pois sua atividade era apenas sazonal. O sistema militar ocidental estava baseado nas relações feudo-vassálicas, as quais foram readaptadas, mais tarde, às condições das cruzadas. A expressão “guerreiro profissional” melhor se aplica aos “cottereaux” ou aos “brabançons”, mercenários desprezados mas necessários aos exércitos medievais. Isso significa que os exércitos feudais não eram exércitos profissionais e, muito menos, permanentes. Longe disto...
Esse papel só seria desempenhado, mais adiante, pelas ordens militares, em contextos e condições bem diferentes conforme os lugares em questão. Na Terra Santa, os estatutos hierárquicos do Templo, primeira parte dos retrais, acrescentados à regra (artigos 77-197), constituiram um código militar sem equivalente nas outras ordens, além de único na Idade Média.. Aborda precisamente a experiência da guerra no ultramar e demonstra claramente a transformação dos belicosos, mas indisciplinados grupos de guerreiros que acompanhavam seus suseranos na guerra, em um determinado, coeso, experiente exército regular, o qual, além disso passou a ser dotado do “esprit de corps”.
Contudo, mesmo em relação aos “pobres soldados do Templo de Salomão”, nem sempre foi assim. Miguel, o Sírio, que revelou alguns detalhes sobre a origem dos templários, escreveu: “Embora sua instituição primitiva servisse para os peregrinos irem lá rezar e para os escoltar na rua, em seguida eles passaram a ir à guerra contra os turcos.”
Muito cedo, de fato, os templários e os hospitalários foram integrados nos exércitos reais o Ultramar (a partir de 1129, em Damasco, no caso dos templários). Mas não se pode esquecer que a missão primordial tanto doTemplo quanto do Hospital era a de proteger os peregrinos. Em Jerusalém, por exemplo, um grupo de 10 templários era especialmente encarregado de “conduzir e proteger os peregrinos que iam ao flum Jordan (o Jordão)”.
A Ordem do Templo (como as outras ordens) adotava vários signos que manifestavam tanto o “pertencimento” de seus membros como sua própria “identidade”. O sinal mais carregado de significação, depois do hábito, era sua bandeira ou “gonfalão”. Disso nos dão conta não só os retrais dos mestres do Templo, como também os cronistas da época. Bandeira, bandeirola, estandarte, gonfalão designam formas diferentes. Porém, a palavra latina do tempo era vexillum, a qual foi traduzida no francês dos retrais por gonfanon ou confanon (gonfalão) ou por enseigne (bandeirola), isso valia tanto para designar a bandeira do Templo como a dos Hospital de São João.
Este estandarte, chamado “Baucéant”, embora grafado de maneiras diversas, tais como “Baucéant”, “Beauceant”, “Baucent” ou “Baussant”, tem sido muito discutido pelos estudiosos do mito templar. À respeito dele, como seria de se esperar, surgiram incontáveis teorias (algumas estapafurdias) mas, hoje em dia, chegou-se perto de um consenso. Geralmente é descrito como sendo preto e branco (ou prata e sablé, na terminologia heráldica), tendo na parte branca a cruz vermelha da Ordem. Outros especialistas, porém, afirmam que apesar de ser realmente preto e branco, o gonfalão não trazia qualquer cruz.
Enfim, com a cruz ou sem ela, um estandarte que unisse tal par de opostos, possivelmente se destacaria melhor à luz crua que incidia sobre as areias do deserto e seria visível a todos, mesmo à distância.
Como todo estandarte militar, também é provável que o Beaucéant, simbolicamente, representasse toda a Ordem, tanto “fisica”, quanto “espiritualmente”. Talvez por isso, o grito de guerra dos cavaleiros do Templo fosse: “A mim, senhor! Beauceant, socorro!”.
O gonfalão também era hasteado quando o Templo tomava posse de um território ou de um “ bem”.
A forma e as cores das bandeirolas das ordens sempre foram variadas, mas na Cronica majora de Mateus Paris estão desenhadas as vexilla do Templo e do Hospital, e o gonfalão do Templo realmente aparece como um retângulo vertical preto e branco. Aliás, por essa razão era chamado baucent (baussant), que significava simplesmente “bipartido preto e branco” (dizia-se também que um cavalo preto e branco era baucent).
O étimo que faz baucent significar “vale cem” é evidentemente fantasioso. Isso equivaleria a dizer que “um templário valia por cem combatentes”, afirmativa sem dúvida exagerada, mesmo levando-se em conta sua bravura e destemor
Ponto de concentração dos cavaleiros em combate (e sua referência maior), o gonfalão era nomeado como se fosse uma “pessoa”. Por exemplo, “Bauceant acampando”, “bebendo água”, “detendo-se” e assim por diante. Durante as lutas, não se podia abandonar o campo de batalha enquanto o gonfalão estivesse erguido e, caso viesse a ser “abatido” ou “capturado” pelo inimigo, os irmãos templários deveriam se reunir ao gonfalão do Hospital (prioritariamente) ou a qualquer outra bandeira cristã.
Abandonar o gonfalão do qual se estava encarregado para fugir de medo ao inimigo era falta gravíssima e significava a “perda da casa”. Deixá-lo para golpear o adversário (no ardor do combate) ou para atacar sem autorização acarretava a “perda do hábito”, punição enriquecida às vezes com a proibição de carregar o gonfalão no futuro. Os estatutos das outras ordens eram menos precisos. Mas, a partir das indicações dos retrais do Templo, pode-se pensar que o gonfalão do Hospital tinha um papel idêntico de representação da ordem. Aliás, havia gonfaloneiros nas duas ordens.
Um certo número de dignitários do Templo dispunha permanenternente de um gonfalão: o mestre, o senescal, o comendador de Jerusalém, os comendadores de Trípoli e de Antioquia e, é claro, o gonfaloneiro... Este cavaleiro, cercado por um grupo de no máximo dez outros guerreiros, era encarregado de mantê-lo erguido no campo de batalha. Por precaução, o comendador dos cavaleiros dispunha de um gonfalão de reserva, enrrolado. Era terminantemente proibido baixá-lo até mesmo para atacar, porém, como o gonfaloneiro o trazia provavelmente fixado na extremidade de uma lança, esta determinação nem sempre era cumprida à risca. Por razões obvias...
Durante o combate os cavaleiros usavam couraça e cota de malha. Tinham como armas uma espada pesada, a lança, o punhal e o maço de pontas e seus cavalos de combate eram os melhores da época.
O conjunto dos irmãos combatentes, cavaleiros ou sargentos, formava o “convento”, termo que não deve ser confundido com a “edificação física”, pois, neste contexto, faz referência à companhia.
Sobre suas acomodações na Terra Santa, os templários viviam em estage, isto é, na caserna, ou então num herberge, isto é, um acampamento.
Quando estavam em operação, os cavaleiros eram formados “en route”, cuja disposição diferia conforme a situação de paz ou de guerra.
Em tempos de paz, os irmãos cavalgavam sobre mulas ou cavalos ordinários, com os escudeiros à sua frente, estes conduzindo as bestas de carga, que levavam o equipamento e o material de acampamento.
Aliás, regra distinguia até mesmo a cavalgada em “terra de paz” (território pacificado e seguro) e a cavalgada em “terra de alerta” (território mal controlado, provavelmente fronteiriço):
“ Os irmãos, se passarem por água corrente em terra de paz, podem dar de beber aos animais se quiserem, mas que não se demorem. E se passarem por água em terra de alerta, o gonfalão (aquele que leva a bandeira e comanda o destacamento) atravessa sem dar de beber; não devem fazer isso sem tranqüilidade.”
Em tempos de guerra, os templários adotavam um comando distinto da organização normal da ordem. O mestre mantinha a preeminência, mas o marechal se tornava o comandante-em-chefe. Sob suas ordens, o submarechal se ocupava das armas; o turcoplier, dos turcoples e dos sargentos; o gonfaloneiro, dos escudeiros. Os irmãos eram então dispostos em “escala” ou “esquadrão”, montando ainda cavalos ordinários, mas já vestindo armadura. Os escudeiros, colocados à frente dos cavaleiros, levavam espadas e lanças, ao passo que outros, mais atrás, conduziam os destriers, ou cavalos de batalha. A formação em esquadrão era específica da época de guerra. Neste caso, o esquadrão ficava disposto em escala, durante os deslocamentos, ou em linha, no campo de batalha, quando o exército se preparava para atacar.
A distinção entre cavalgada em tempo de paz e cavalgada em tempo de guerra é fundamental:
“Quando o convento cavalga pela estrada, o gonfalofleiro deve ir à frente do gonfalão e deve fazê-lo ser conduzido por um escudeiro ... E quando está em guerra, e os irmãos vão em escala, um turcople deve conduzir o gonfalão”.
Os templários dividiam-se entre a vida conventual e a vida dos acampamentos, entre a “casa” (qualquer estabelecimento estável) e as barracas.
Quando cavalgavam, os irmãos pegavam os cavalos da caravane e as bestas de carga do sommaige (o comboio dos equipamentos).O roupeiro distribuía as roupas e o material para dormir: a carpite, ou grossa coberta “para cobrir a cama ou seus pescoços enquanto cavalgam”; sacos, um dos quais feito de malhas de ferro (o treslis) para transportar roupas e cotas de malha. O equipamento e o material de acampamento eram carregados sobre bestas de carga, ao passo que os irmãos montavam cavalos ou mulas.
Ao cavalgar, um irmão podia se aproximar de outro e lhe falar, mas sob a condição de obter licença do marechal e tomando cuidado de “ir e vir sob o vento”, caso contrário “a poudre (poeira) causaria problemas e aborrecimento à marcha”.
O marechal ordenava a parada gritando: “Acampai, senhores irmãos, por Deus.”
Havia vários tipos de abrigo: em dormitório, sob a tenda e, sobretudo em caso de guerra, “abrigo em hotel” ou “de escala”, neste caso, às vezes simples interrupções de inspeção, necessárias para, por exemplo, proteger os víveres. Havia também paradas mais ou menos longas, quando instalavam emboscadas. Quando isso acontecia, “não se devia então “tirar nem freio nem sela”.
O material de acampamento era composto de tendas: o mestre tinha direito a tendas redondas, aguiílier e/ou grebelure, esta menor que aquela, cabendo aos irmãos cuidar das estacas e postes (“laborar encaixes ou cavilhas”), assim como de suas armaduras.
Se pretendiam demorar-se, começavam por erguer a tenda-capela, onde se reuniam para recitar as horas. (horas canônicas, segundo a regra)
Em torno da tenda do mestre eram dispostas as do comendador da Terra e a tenda da carne. Depois as outras.
De fato, em campanha era realmente designado um “comendador da carne” para dividir a comida.
Quantas escalas havia? Durante a guerra em Trípoli e Antioquia, formaram-se duas escalas de cavaleiros, uma sob a direção do marechal do Convento, que fora a Tripoli ou a Antioquia, outra sob a do marechal da Terra (de Tripoli ou de Antioquia).’ Não se trataria antes de “batalhas”, cada uma agrupando um certo número de escalas? Pois, segundo o texto, uma escala era colocada sob a direção de um comendador de escala que dispunha de um gonfaloneiro e de dois cavaleiros para servi-lo: “E assim como é dito do Marechal (Mareschau),é dito do conjunto dos comendadores (commandeors) que fazem escala.” As escalas de cavaleiros somavam-se aquelas dos sargentos de armas e uma de escudeiros.
Em combate os cavaleiros pegavam sua lança e seu escudo e montavam os cavalos de batalha, os magniníficos “destriers”. Os escudeiros, que até então carregavam as armas, passavam então a conduzir as mulas e cavalos de cavalgada, enquanto aqueles que haviam conduzido os cavalos de batalha segiam o mais perto possível seus senhores, prontos a socorrê-los ou a substituir-lhes a montaria ferida ou morta.
”E se o Marechal e os irmãos atacam, os escudeiros que levam os cavalos de batalha devem juntar-se a seus senhores, e os outros devem pegar as mulas (sobre as quais) seus senhores cavalgam e devem permanecer com o gonfaloneiro.”
A batalha, o ataque da cavalaria pesada, era apenas um aspecto dos combates. Nada se sabe sobre o treinamento desses homens que, em princípio, chegavam ao Oriente adultos e armados, portanto formados. A regra do Tempio proibia aos templários participarem de uma justa sem autorização, mas nem sempre todas as normas eram respeitadas.
Afresco do Templo de Cressac
Fonte: Os Templários
Afresco do templo de Cressac, chamado du Dognon ...
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De fato, em campanha era realmente designado um “comendador da carne” para dividir a comida.
Quantas escalas havia? Durante a guerra em Trípoli e Antioquia, formaram-se duas escalas de cavaleiros, uma sob a direção do marechal do Convento, que fora a Tripoli ou a Antioquia, outra sob a do marechal da Terra (de Tripoli ou de Antioquia).’ Não se trataria antes de “batalhas”, cada uma agrupando um certo número de escalas? Pois, segundo o texto, uma escala era colocada sob a direção de um comendador de escala que dispunha de um gonfaloneiro e de dois cavaleiros para servi-lo: “E assim como é dito do Marechal (Mareschau),é dito do conjunto dos comendadores (commandeors) que fazem escala.” As escalas de cavaleiros somavam-se aquelas dos sargentos de armas e uma de escudeiros.
Em combate os cavaleiros pegavam sua lança e seu escudo e montavam os cavalos de batalha, os magniníficos “destriers”. Os escudeiros, que até então carregavam as armas, passavam então a conduzir as mulas e cavalos de cavalgada, enquanto aqueles que haviam conduzido os cavalos de batalha segiam o mais perto possível seus senhores, prontos a socorrê-los ou a substituir-lhes a montaria ferida ou morta.
”E se o Marechal e os irmãos atacam, os escudeiros que levam os cavalos de batalha devem juntar-se a seus senhores, e os outros devem pegar as mulas (sobre as quais) seus senhores cavalgam e devem permanecer com o gonfaloneiro.”
A batalha, o ataque da cavalaria pesada, era apenas um aspecto dos combates. Nada se sabe sobre o treinamento desses homens que, em princípio, chegavam ao Oriente adultos e armados, portanto formados. A regra do Tempio proibia aos templários participarem de uma justa sem autorização, mas nem sempre todas as normas eram respeitadas.
Afresco do Templo de Cressac
Fonte: Os Templários
Afresco do templo de Cressac, chamado du Dognon ...
Por Charles Bispo
Um comentário:
Olá!
Muito interessante este trabalho sobre os Templários. Gostei.
Eles também andaram por aqui.Em alguns pontos do nosso Portugal existem as provas.
Há uns tempos adquiri um livro alusivo, chama-se O Legado dos Templários; é grandinho mas não me fez enfado.
(Era uma ordem forte, e muito mais...)
Vim pela primeira vez até este blog, mas voltarei, fiquei seguidora.
Abraço, de Portugal.
Dilita.
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