A espiritualidade é regida pelo princípio da temperança. O caminho de
Buda é o arcano XIIII do tarot. Nem muito, nem pouco; o necessário.
Quanto maior o conhecimento dos dois lados mais justa e perfeita será a
justa medida. Quanto maior o anjo maior o demônio.
A busca espiritual é regida pela lei da dualidade e a dualidade não é
apenas o maniqueísmo entre o bem e o mal, mas também o número 2. Todas
as leis cósmicas estão em harmonia e não existe lei cósmica alguma que
possa ser interpretada à sombra das outras.
As leis cósmicas são luzes e luzes se somam, não se anulam. Assim como o
1 faz o 2 o 2 faz o 3. A dualidade do 2 gera a trindade do 3 e o 3 é o
caminho do meio. Os dois caminhos opostos geram um terceiro: o caminho
do meio. Sem o 2 não há o 3. É preciso passar
pelo 2 para chegar ao 3. Quem se isola no 1 não alcança o 2 e quem não
passa pelo 2 não chega ao 3 e o 3 é o objetivo. O 2 possui o 1 e o 3
possui o 2 e o 3. No 3 está a lei dos ciclos, quando tendo completado a
volta se compreende o todo em harmonia alcançando-se
uma nova etapa de compreensão. O 3 é o objetivo e não se alcança um
objetivo sem percorrer as etapas necessárias. É preciso compreender o 1 e
o 2 para chegar ao 3. O 3 compreende o 2 e o 1 e o 2 compreende o 1.
Todo ensinamento exotérico da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR)
possui o seu equivalente esotérico e vice-versa. Não há dogma da ICAR
que vá de encontro à Verdade, pois os dogmas da ICAR são as
manifestações da Verdade no 1. O caminho do 1 é o exotérico,
é o dogma. O caminho do 2 é o esotérico; o esotérico existente no dogma
no 1 e que acaba sendo erroneamente interpretado pelas pessoas como uma
mera negativa ou antítese do dogma. A ignorância do 2 resulta na
ignorância do maniqueísmo de seguir e negar cega
e sumariamente todo dogma. O caminho do 3 é a ciência do 1 e do 2; a
compreensão da harmonia e da unidade entre o exotérico e o esotérico. O 3
é a percepção da visão de Deus da ponta de cima do triângulo e de que
Deus está além do bem e do mal porque está
acima. O maçom, como buscador da Verdade, não pode ser escravo do
maniqueísmo entre as pontas de baixo do triângulo, pois seu objetivo é
ser como Deus e Deus não está nas pontas de baixo. Tanto não cabe ao
maçom ser escravo do dogma quanto não lhe cabe ser
escravo da absoluta e completa rejeição do mesmo, pois então não seria
livre. O maçom deve ser o 3 e o 3 é o equilíbrio, resultante da ciência
do bem e do mal, entre o 1 e o 2.
O ágape na atual maçonaria especulativa não é uma exclusividade da atual
maçonaria especulativa. O ágape é tão antigo quanto as escolas de
mistérios no planeta Terra. Se engana o maçom que pensa que o ágape foi
inventado pela maçonaria e que após as sessões
ele faz algo jamais visto no mundo. O ágape sempre fez parte das
reuniões entre os Iniciados, inclusive desde a antiguidade. Entretanto, o
modo como o ágape vem sendo conduzido pela atual maçonaria especulativa
está cada vez mais distante do verdadeiro sentido
do ágape para uma ordem iniciática como a maçonaria. Cada vez mais o
ágape vem sendo conduzido como uma mera confraternização entre os irmãos
após as sessões. Assim como no mundo profano as pessoas se reúnem pelos
mais diversos motivos para comer e beber,
os maçons têm conduzido o ágape como uma mera reunião de comes e bebes
entre amigos, esquecendo-se do caráter sagrado do ágape que deve haver
na maçonaria, pois a maçonaria é sagrada e o sagrado deve gerar o
sagrado, assim como o profano gera o profano. O
ágape na maçonaria não deve ser uma mera confraternização entre irmãos,
mas deve ser o que sempre foi para os Iniciados: uma parte do ritual.
Quando uma pessoa recebe um comentário negativo de alguém ela se coloca
em uma posição de perfeição negando sumariamente o comentário que
recebeu e desqualifica seu crítico para desqualificar o comentário
recebido. A pessoa criticada sequer chega a ponderar
sobre o comentário negativo que recebeu para avaliar o quanto aquilo
poderia estar correto. Muita baboseira é dita em relação à maçonaria,
mas algumas coisas acabam tendo sentido se considerada a postura como a
atual maçonaria especulativa vem conduzindo a
maçonaria. Há quem diga que a maçonaria é uma mera reunião de homens
que se juntam para comer e beber. Em termos tal afirmação não há de ser
desqualificada, considerando que a atual maçonaria especulativa vê o
ágape como uma mera confraternização entre os
irmãos após as sessões para estreitar os laços fraternos. Se a
maçonaria não concorda com a opinião dos que dizem que ela é uma mera
reunião de homens que se juntam para comer e beber, a maçonaria deveria
avaliar se o seu ágape não se transformou em uma mera
confraternização com comida e bebida. A transformação da visão externa é
de dentro para fora, inclusive a maneira de como o mundo profano vê a
maçonaria.
O ágape sempre fez parte dos rituais dos Iniciados. Hoje o acesso a um
templo é fácil e cômodo. É possível encontrar lojas maçônicas na
esquina, no próprio bairro e a poucos minutos de automóvel. Na
antiguidade o caminho até um templo era difícil para muitos.
Iniciados faziam verdadeiras peregrinações, até mesmo de meses, para
chegar a um templo. Os templos ficavam até mesmo em lugares de difícil
acesso físico para que se ocultassem dos olhares profanos. Tudo era mais
difícil no plano material. O ágape na antiguidade
era também uma forma de satisfazer a necessidade fisiológica de
nutrição após todo o esforço físico para participar de um ritual.
Pessoas que tinham passado por grandes restrições físicas para chegar ao
templo e participar do ritual tinham então o momento
para se alimentar e se recompor. O Iniciado, mesmo após todo o esforço
físico para participar de um ritual, faminto, diante da oportunidade de
saciar sua fome e sem certezas sobre o seu retorno, se portava de uma
forma introspectiva e contemplativa, pois o
Iniciado sabe da importância da introspecção e da contemplação. A
sabedoria vem pela introspecção e contemplação e não é à toa que o mundo
profano trabalha contra isto, inclusive demonizando tais
comportamentos.
Pessoas gostam de rezar ou orar antes de suas refeições como uma forma
de gratidão a Deus pelo alimento. Mas basta que digam o “amém” para que
comecem a comer feito porcos. À mesa gritam, faltam alto, deixam a
televisão e o aparelho de som ligados da pior maneira
possível, falam de assuntos absurdamente tolos, inúteis e abomináveis,
atacam verbalmente os outros, presentes ou não, com indiretas ou
diretas, falam sobre as intimidades das relações sexuais, inclusive
sobre a vida sexual dos outros, e tratam o ritual de
alimentação como se estivessem defecando no banheiro. É evidente que
não adianta agradecer a Deus antes de comer e depois comer com o Diabo,
fazendo do ritual de alimentação um banquete no inferno. A “gratidão” a
Deus, essa “gratidão” que virou moda falar
para tudo quanto é coisa - “gratidão” para cá, “gratidão” para lá -,
não se dá por palavras, mas pela conduta. Assim como o que importa em
relação ao Amor não são as palavras, mas a conduta. A gratidão a Deus
pelo alimento não vem pelas rezas e orações ou
por só comer verdurinhas, mas pelo respeito ao ato de se alimentar,
alimentando-se conscientemente durante todo o ritual de alimentação,
estando consciente do que aquilo representa na Criação.
A maçonaria preza pela fraternidade não apenas entre os irmãos, mas
também com as cunhadas e os sobrinhos. Isto é bom, mas a obrigação
ritualística deve sempre ser obedecida e estar acima dos interesses
pessoais e transitórios. Um dos objetivos do maçom como
iniciado em uma ordem iniciática é perpetuar a ordem através da
obediência incondicional às leis maçônicas e à ritualística. Da mesma
forma que as cunhadas e os sobrinhos não participam das sessões fechadas
também não devem participar do ágape, pois o ágape
faz parte do ritual. A maçonaria dá às cunhadas e aos sobrinhos
incontáveis oportunidades de viverem a fraternidade maçônica, mas esta
confraternização não deve ser feita no ágape. A função do ágape não é
confraternizar. Quando um homem ingressa na maçonaria,
por mais que a ordem inclua a família do maçom, este é o seu caminho. A
evolução espiritual é sempre um caminho individual. Cada um evolui
conforme seus próprios méritos. Todos evoluem individualmente e se a
maçonaria é o caminho do maçom, as cunhadas e os
sobrinhos também terão os seus caminhos. O desejo de ser amigo de todo
mundo não pode se colocar acima da obediência à ritualística.
O caminho do 1 é o caminho do medo; o de se subjugar a Deus por temer os
efeitos da desobediência - a ira de Deus e o sofrimento eterno da alma
-. No caminho do 1 há o Deus que criou o homem para adorá-lo e isto se
traduz no temor a Deus por ele ser todo poderoso.
Se no caminho do 1 há o temor a Deus pelo receio dos efeitos da
desobediência, no caminho incompreendido do 2 há o Deus que não precisa
ser temido, pois “Deus é amor”, e o temer a Deus do 1 é apenas uma forma
de opressão e controle. No 1 há o temor a Deus
e no 2 incompreendido – compreendido no maniqueísmo e como antítese do 1
– nega-se a necessidade de temer a Deus. O 3 mostra que pode haver Amor
no reconhecimento do poder de Deus. O maçom só é maçom quando
compreende o 3 e vive em paz com o reconhecimento
do poder supremo do Supremo Arquiteto do Universo. Para quem vive o 1 e
não compreende o Amor de Deus, Deus deve ser apenas temido; para quem
vive o 2 e não compreende o poder de Deus, Deus é apenas um bom
camarada, mas quem vive o 3 compreende que amar a
Deus, ser amado por Deus e estar sujeito ao seu poder supremo podem
estar em harmonia. Os dogmas da ICAR que ressaltam o poder de Deus fazem
parte do triângulo equilátero.
A compreensão do 3 pelo maçom resulta em seu respeito a Deus e ao modo
como Deus faz as coisas; o respeito que vem não pelo medo, mas
justamente por viver a harmonia entre amar a Deus, ser amado por Deus e
estar sujeito ao seu poder supremo. A alimentação é
um dos modos de como Deus faz as coisas. O processo de se alimentar é o
sistema que Deus tem para o homem se nutrir e se Deus tem este sistema
ele deve ser respeitado. O Iniciado respeita o ágape porque no ágape o
homem se alimenta e a alimentação é como Deus
faz as coisas. Por isto a alimentação deve ser respeitada e ser feita
com consciência, na introspecção e contemplação natural que acompanham
todo Iniciado. Em todo o processo da alimentação o Iniciado deve estar
ciente de que este é o modo como Deus faz as
coisas e respeitar este ato é respeitar o próprio Deus. Os Iniciados da
antiguidade realizavam o ágape como parte do ritual pela consciência da
importância da alimentação por ser a alimentação o modo como Deus faz
as coisas, não para confraternizar. Os Iniciados
tinham tanta consciência do sagrado que tornavam tudo sagrado,
inclusive o ato de se alimentar. O Iniciado consagra, o profano profana.
O ágape deve ser consagrado, não profanado.
O ágape não é uma mera confraternização de pessoas que se reúnem para
comer e beber bem, mas é parte do ritual. Sendo parte do ritual, o ágape
deve ser conduzido e respeitado como tal, assim como se conduz e se
respeita o ritual dentro do templo. Em seu escopo
de estreitar os laços da fraternidade o ágape não é um fim, é um meio.
Os maçons não devem ter o ágape para comemorar a fraternidade, mas para
estreitar os laços que os levarão às coisas maiores em favor da
humanidade. A informalidade do ágape abre portas
que não poderiam ser abertas no ritual, mas as portas são muitas e cabe
a cada maçom escolher qual porta quer abrir, já que as chaves lhe serão
dadas. Há os que consideram a maçonaria como uma associação de homens
de negócios que se reúnem com o intuito de
estreitar as relações comerciais e utilizam o ágape para estreitar tais
relações, vendo o ágape como a oportunidade para conversar sobre
negócios e ganhar dinheiro. É na liberdade da informalidade do ágape que
cada maçom irá externalizar o que verdadeiramente
espera da maçonaria. A última ceia de Jesus Cristo foi um ágape e
aqueles que Jesus expulsou do templo foram aqueles que queriam se
aproveitar das escolas de mistérios para enriquecer.